Calor do Sol...


Como seria bom poder aproveitar o Sol neste dia encantador... mas aqui estou eu preso ao trabalho e tu em lugar incerto...
Na incerteza da realidade resta-me a imaginação... esta sim sempre juntinha a mim leva-me à beira mar e à areia brilhante para sonhar:
O sol enche-me os poros da pele ainda húmida, estendo os braços à praia num abraço a todos os grãos finos de areia sob o meu corpo ampliando-o num gesto pleno de comunhão.
Se o mundo fosse uma praia deserta, eu deitava-me nele e deliciava-me com os sonhos tórridos de verão.
Uma brisa amena, aconchegante, mãos suaves e delicadas a afagar-me o rosto, a sugar-me o gotejar tépido do meu corpo ainda com sabor a mar.
A liberdade de movimentos estendido neste contínuo areal e abocanhado pelo sol quente que me inunda o corpo, está num momento de rendição que se veste da cor do desejo, e é colocada nas minhas mãos.
Curvo-me perante ti, olhas-me como quem quer penetrar os sonhos do mundo sem saber como pegar-lhe, baixo-me e estendo-me na areia, corpo livre, estendido ao sol a secar dos múltiplos banhos do mar, que nos oferece agora uma sinfonia calma. A espuma que vem mergulhar na areia fina, toca-nos ao de leve as pontas dos dedos dos pés, desliza sobre as pernas, massajando-nos a pele num só gesto. O mar atraiçoa-se neste vai-e-vem constante que chora baixinho neste fim de tarde, as tuas mãos percorrem-me o corpo quente e o sol acena-nos ao longe, lembrando que está na hora de nos despedir-mos.
Sinto a humidade que se solta da profundidade da areia, volto-me de face para o sol para que se entranhe no meu corpo, até ao ponto onde tudo é, as tuas mãos avançam procurando a nudez plena, quente e inquietante, numa viagem onde tudo acontece.
O prazer de ter ali só para mim condensa-se num odor que desconheço, olho a ondulação forte para sentir através dela a sensação de um olhar penetrante que me incendeie os sentidos e me enche nos momentos abrasivos de uma humidade que me escorra pelo corpo, e me faça transbordar as margens secas, onde a corrente se abasteça e culmine num sopro quente do desejo. Os teus olhos viajam além de nós e fecham-se devagar, só o prazer dos corpos se identifica com o calor que nos afaga a alma, bailamos ao som da música que nos traz o vento e em comunhão com a crista da liberdade, somos as vozes criadas num momento de eternidade.
Ouço-te nos murmúrios do tempo, e as estrelas que se perdem num céu sem nuvens, caem na desgraça e adormecem nos jardins imaculados do templo.

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