Insatisfação...

Sempre a tentar, a tentar.
Faço uma experiência aqui, ponho em pratica uma ideia que me parece iluminada, persigo um pensamento que quase posso jurar me irá libertar.
E queixo-me das circunstancias porque parece mesmo que são elas a atrasar o 'cumprir-me'.
Não falo em cumprir sonhos, o sonho americano, as coisinhas. À escala da minha pouca ambição, estão todos cumpridos. E por estarem todos cumpridos fica ainda mais gritante que ainda não tenho o que quero.
Falo em dizer a frase que quero.
Não falo 'em ser directa', que está na moda, e parece confundir-se com ser-se bruto.
Falo em dizer a frase que quero, com a delicadeza com que nasci e que parece ter-se desvirtuado a favor da efeciencia.
Falo em estar calada na festa e não me assustar por ser uma desilusão para os outros.
Falo em não ter medo.
Falo em largar as coisas.
Falo em deitar-me no chão às 5 da tarde sem medo de me sentir angustiada.
Falo em parar quieta.
Falo em olhar para dentro, para o vazio, balouçar-me nele e ver que afinal não há nada de mal, que é bom afinal, a coisa melhor de todas.
Falo em receber um beijo de ternura e não sair logo a correr.
Falo em saber dizer não quando está-se mesmo a ver que disse sim por causa do meu egozinho.
Falo em não ter que fazer mil coisas para sentir que as coisas fazem sentido, que sou útil, que o cansaço justifica a minha existência.
Que estou perdoada.

por Martha Gautier

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