FODAMOS! por Sílvia Baptista

Depois do festim gastronómico e consumista do Natal, chega o banquete das resoluções de ano novo. A semana que vive de permeio entre os presentes e a esperança de um ano melhor está impregnada de desejos e vontades várias. Dormir mais horas, ler mais livros, comer melhor, tudo se quer pelo bem, pelo bom e, de preferência, pelo óptimo. E o sexo? Quantos de nós aspiramos, conscientemente, a ter mais e prazeroso sexo no ano que espreita?

Muito poucos, estou certa. E não o fazemos porque, por um lado, estando em parelha, damos a coisa como garantida. Por outro, não havendo companhia, contentamo-nos com o que a vida, na sua infinita bondade, possa trazer. E assim andamos, muito ocupadinhos, empenhados em sermos pessoas mais activas, mais espectaculares mas pouco fodilhonas. Ambicionamos o Santo Graal da vida moderna mas obliteramos o segredo da “vida eterna”. Procuramos morrer velhos mas ignoramos a alegria e o prazer da petite mort. Exercitamos o corpo, esculpimos abdominais e glúteos mas desatendemos piça e pipi. Ou seja, não só não pretendemos ser mais e melhores fodilhões como tencionamos mesmo continuar a olhar para o lado.

E dizem vocês: olha-me esta porca armada em moderna! E eu respondo: modernos são vocês, que acham que podem ignorar o sexo e relegá-lo para as calendas gregas. São modernos e devem saber coisas que eu desconheço. Devem saber, por exemplo, como continuar a ter tusa pela vida, pelo parceiro, pelo mundo em geral. Porque não há nada que nos diga tanto “estou vivo, caralho!”, que uma boa e prazerosa foda. E dizem vocês, outra vez: olha-me esta porca, a achar que todos têm parelha. E eu respondo: modernos são vocês, que ainda não descobriram a masturbação. A sexualidade não se esgota no sexo com o outro. E se não sabem do que falo, peguem na lista de afazeres para o ano que vem e marquem, logo no feriado inicial, uma exploração simpática pelo vosso corpo. Se é a mesma coisa que ter parceiro? Não, mas é igualmente bom. Ou, pelo menos, é uma visita que vale a pena fazer. Muitas vezes.

Seja qual for o enquadramento, o tipo de parelha, a líbido e vontade de cada um, o que importa é não esquecer que o sexo salva. Salva-nos de tensões, de irritações e de neurastenias várias. Indignemo-nos menos, fodamos mais. Chateemo-nos menos, fodamos mais. A foda tem esta capacidade extraordinária de nos colocar em sintonia com o mundo, mais próximos de quem estamos próximos e mais longe de quem não queremos na cercania. Antes de sermos engolidos pela espuma dos dias, fodamos. Ou façamos amor. Ou como melhor nos aprouver. Mas fodamos.

Silvia Baptista

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